As
diversas doenças que comprometem os pulmões podem modificar a complacência dos
pulmões, de modo que os volumes e capacidades previstos para uma pessoa se
alteram, e isso é detectado por provas de função pulmonar como a espirometria.
Volume Residual
O
volume de gás presente nos pulmões ao fim de uma expiração máxima, dito
volume
residual, também é determinado pelo balanço de forças elásticas.
As
pequenas vias aéreas são o ponto de inserção das fibras
colágenas e elásticas, as quais se dirigem para os
alvéolos e pleura visceral, sendo responsáveis pela
retração elástica pulmonar. Em função do seu trajeto, essas fibras
exercem uma tração sobre as paredes das vias aéreas, tendendo a manter a
patência de seu lúmen; por esta razão, a função dessas fibras tem sido comparada
como a de cordas de retenção.
Durante uma expiração forçada, o volume pulmonar
decresce; a tração que é
exercida pelas fibras sobre as paredes das pequenas vias aéreas
diminui, de modo
que seus diâmetros internos reduzem consideravelmente. Esta mudança no diâmetro
eleva a resistência ao fluxo aéreo, de modo que há uma progressiva e acelerada
queda na pressão dentro da luz brônquica, em relação à alveolar. O resultado
final é a oclusão das pequenas vias aéreas, uma decorrência dos efeitos da queda
na pressão intra-brônquica e da tração exercida pelas fibras elásticas sobre a
parede bronquiolar.
O
volume residual pode então ser definido como o volume de gás presente no pulmão
ao fim de uma expiração máxima, quando a oclusão das pequenas vias aéreas
previne expiração adicional.
Em
crianças e adultos jovens, a expiração forçada da CV cessa a um volume pulmonar
(dito volume residual) no qual as forças opostas são iguais, ou seja, os
músculos expiratórios produzem uma força que é suficiente para promover redução
adicional no volume do sistema. Assim, o volume residual em crianças e adultos
jovens sadios é determinado principalmente pelo equilíbrio de forças operando
sobre a caixa torácica.
Em idosos e pneumopatas, o volume residual é
determinado por fatores que regulam o calibre e potência das
pequenas vias aéreas. Isso significa que, mesmo sendo os músculos capazes de
comprimir o sistema e esvaziar adicionalmente os pulmões, o ar não consegue sair
porque há oclusão precoce das pequenas vias aéreas e certo grau de
"alçaponamento de ar" (air trapping).
Capacidade Residual Funcional (CRF)
Quando os músculos respiratórios estão relaxados, o volume pulmonar é
determinado pela soma algébrica das retrações elásticas individuais dos pulmões
e da caixa torácica. A pequenos volumes pulmonares, quando as forças de retração
elástica de pulmões e caixa torácica são opostas, surge a tendência à expansão
do espaço pleural, que torna a pressão pleural negativa (subatmosférica).
Sob
condições normais, o tórax ocupa uma posição de equilíbrio na qual a tendência
para a caixa torácica expandir é exatamente balanceada pela tendência para o
pulmão desinsuflar. Essa posição de equilíbrio é um "ponto de repouso
respiratório" que corresponde à CRF (capacidade residual funcional).
Assim, a capacidade residual funcional pode ser
definida como o volume de gás ao fim de uma expiração normal, quando a retração
elástica do pulmão (para dentro) e da caixa torácica (para fora) são iguais e
opostas. A CRF aumenta no enfisema (pela menor retração elástica pulmonar) e
reduzida no fibrose pulmonar (maior retração pulmonar).
Capacidade Pulmonar Total (CPT)
Uma
inspiração máxima corresponde à capacidade pulmonar total, a qual também resulta
do equilíbrio de forças atuando sobre o pulmão. Contudo, enquanto que em outros
volumes pulmonares a retração elástica de tórax e pulmões estão em oposição, ao
limite máximo da inspiração, a retração elástica de tórax e pulmões ocorre no
sentido de se opor ao trabalho dos músculos respiratórios.
Assim, CPT pode ser
definida como o volume de gás nos pulmões no limite inspiratório, quando a
somatória das retrações elásticas e torácicas são de mesma direção (para dentro,
contrária a movimento inspiratório).
A retração para o tórax é exercida para
fora até ser atingida 67% da CPT; a partir daí, o tórax tende a retrair para
dentro, tal como os pulmões o faz sempre. A CPT está diminuída se houver rigidez
pulmonar ou torácica (como na fibrose pulmonar, na
espondilite anquilosante,
etc.).
Capacidade Vital e Vital Forçada (CVF)
A CRF
ocorre quando a somatória entre as retrações pulmonares e torácica se anulam.
Numa inspiração, a força desenvolvida faz aumentar progressivamente a retração
elástica dos pulmões e diminuir a da parede torácica, até 67% da CRF, quando
passam a se elevar tanto a retração pulmonar quanto a torácica (para dentro).
A
partir desse ponto, a retração elástica da parede torácica se soma à pulmonar na
oposição ao movimento respiratório; nesse momento, as fibras musculares já
encurtadas são menos capazes de desenvolver força adicional, sendo atingida a
CPT quando cessar a inspiração.
As forças opostas, muscular e
pulmonar, estão
equilibradas - exatamente anuladas ao nível da CPT - porque as fibras musculares
não podem gerar a força adicional necessária para distender ainda mais pulmões e
tórax (as costelas já estão horizontalizadas, o diafragma está rebaixado e
retificado, as fibras musculares já estão quase no limite de seu encurtamento,
etc).
Na obtenção da
CVF, mediante expiração máxima, a força desenvolvida pelo
músculo encontra inicialmente facilidade em reduzir os diâmetros torácicos, uma
vez que as costelas tendem normalmente a ficar verticalizadas e o diafragma, a
ficar abaulado; além disso, o movimento se inicia com ajuda das retrações
elásticas de pulmões e caixa torácica, no mesmo sentido (para dentro).
|