Coube
a Neegard a demonstração da inter-relação entre elasticidade dos tecidos
pulmonares, elasticidade pulmonar, complacência, tensão superficial e histerese
pulmonar.
Em
1929, este autor percebeu que, a cada volume considerado, maior pressão de
distensão é necessária para insuflar o pulmão com ar que com salina (soro
fisiológico), e que a histerese pulmonar desaparece quando uma solução salina é
usada para encher o pulmão.
Como
esse procedimento elimina a interface líquido-ar, estão inquestionavelmente em
jogo as forças de superfície líquida. Logo, a retração elástica pulmonar depende
não apenas da distensibilidade própria dos tecidos pulmonares, mas também de
outros fatores, como a tensão superficial.
De
fato, o enchimento do pulmão com soro fisiológico descreve o comportamento
somente das fibras elásticas e colágenas do pulmão, mas a insuflação com ar
evidencia também a influência das forças superficiais descritas vulgarmente como
tensão superficial.
Quando o pulmão é insuflado com ar, o aumento do volume a princípio é pequeno,
trabalho sendo feito (energia sendo gasta) para
abrir as pequenas vias aéreas colapsadas na expiração precedente.
Nessa faixa da curva, quase todo o esforço é gasto para abrir as pequenas vias
aéreas, portanto, para vencer a oposição da tensão
superficial.
Após isso, por um longo período da insuflação, o volume pulmonar aumenta
linearmente com a pressão aplicada; o esforço aqui encontra oposição tanto da
tensão superficial, quanto da resistência oferecida pelas fibras elásticas e
colágenas.
Quando o volume pulmonar está próximo à CPT, a relação DV/DP horizontaliza-se
outra vez, até que, no limite, nenhum aumento adicional de volume pulmonar pode
ser obtido com elevação na pressão de distensão. Esse ponto de insuflação máxima
do pulmão é determinado pelas características de distensibilidade do tecido
pulmonar e não mais é influenciado pela tensão superficial. Na verdade, foi
atingido o limite máximo da deformação das "molas" representadas pelo tecido
elástico pulmonar.
Contribuição Relativa
Tensão Superficial versus Distensibilidade
A
contribuição relativa da tensão superficial e da distensibilidade própria dos
tecidos retração elástica pulmonar varia em função do volume pulmonar.
A
pequenos volumes, os elementos elásticos pulmonares estão operando a um nível de
baixa distensão, na porção inferior da curva pressão-volume, preponderando os
efeitos da tensão superficial. Em outras palavras, as "molas" estão pouco
distendidas.
Com o aumento da expansão pulmonar, a oposição dos elementos
elásticos se torna crescente e semelhante à oferecida pelas forças de superfície
(que também se elevam com o aumento do raio alveolar), até próximo da CPT, em
que os elementos elásticos estão trabalhando no limite de sua distensibilidade,
operando na posição horizontal superior da curva pressão-volume.
Fatores que influenciam a complacência
A
complacência é definida matematicamente como a inclinação da curva
volume-pressão. Assim, a complacência estática do pulmão é a mudança de volume
por unidade de pressão entre alvéolo e a superfície pleural do pulmão.
Um
pulmão de elevada complacência expande em maior grau que um outro pulmão de
menor complacência, quando ambos são insuflados a uma mesma pressão de
distensão.
A
complacência estática também sofre influência da oclusão das vias aéreas, já que
isso diminui o número de alvéolos que contribuem para a expansão do pulmão. A
oclusão de pequenas vias aéreas ocorre durante a expiração a volumes próximos do
volume residual. Do mesmo modo, a complacência diminui com a oclusão de
brônquios segmentares por uma neoplasia ou um corpo estranho, por exemplo.
A
complacência estática também é diminuída por doenças que afetam a distensibilidade do tecido pulmonar, isso ocorre na
SARA (síndrome de angústia
respiratória do adulto), em que há perda de surfactante; na fibrose pulmonar
intersticial; e no edema intersticial. Por outro lado, a complacência estática
aumenta muito no enfisema, doença em que há perda de fibras elásticas do
parênquima pulmonar (por ruptura do septo pós bronquíolo terminal).
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