Existem dezesseis gerações de brônquios sem alvéolos (excluída a geração 0,
traquéia, que não é brônquio) e sete gerações na porção respiratória; daí se
percebe que a área de secção transversa vai aumentando progressivamente, o que
determina velocidade de fluxo aéreo decrescente, de modo que o fluxo, a princípio
turbulento, se torna laminar.
Ao
nível de alvéolo, acredita-se que não haja movimento da coluna aérea, ocorrendo
nesse ponto somente difusão de gases. A resistência das vias aéreas é criada
pela fricção entre moléculas do gás que flui e entre estas e as paredes das vias
aéreas condutoras.
A resistência das vias aéreas varia inversamente com a quarta
potência do raio do tubo, conforme a equação de Poiseuille.
Pressão = fluxo x viscosidade x tamanho do tubo/ raio4
Assim, a pressão necessária para mover ar através das vias aéreas é proporcional
ao raio da via aérea elevado à quarta potência. Para se manter um fluxo qualquer
após redução do raio brônquico à metade, necessitamos de uma pressão pelo menos
16 vezes maior que aquela necessária em condições normais. Este fato é observado
freqüentemente em asmáticos em crise.
Medindo a Rva
A
ativação do fluxo aéreo e da diferença de pressão entre boca e alvéolo
(responsável pelo fluxo) permite o cálculo da resistência ao fluxo aéreo nas
vias aéreas.
Rva = DP/F
Onde
Rva = resistência das vias aéreas
DP = diferença de pressão entre boca e alvéolo
F
= fluxo aéreo obtido
A
resistência das vias aéreas é medida por pletismografia, onde o paciente fica no
interior de uma cabine que permite a medição contínua da pressão ao redor do
corpo do paciente. Quando o paciente inspira 500 ml de volume corrente e expande
o tórax para acomodar esse volume adicional de gás, a pressão ao redor do corpo
aumenta. A pressão no plestimógrafo torna-se supra-atmosférica. O inverso ocorre na expiração. Pela
simultânea medida da pressão alveolar e do fluxo pelas vias aéreas, é possível
medir a resistência das vias aéreas. O valor normal: 0,6 a 2,4 cm H2O/l/s.
Locais de resistência nas vias aéreas
Existem poucos estudos levados a efeito em pessoas normais avaliando a
resistência friccional e a contribuição relativa de cada segmento das vias
aéreas. Entretanto, sabe-se que:
1.
A resistência oferecida pelo nariz é a maior (30 a 50%) e aumenta
espetacularmente com elevação do fluxo, tornando-se proibitiva no exercício
físico pesado, obrigando a adoção da respiração pela boca quando o fluxo pelo
nariz é elevado.
2.
A resistência oferecida pela orofaringe contribui com
20% para a resistência
das vias aéreas, e também se eleva enormemente com o aumento do fluxo
característico do exercício aeróbico pesado.
3.
A resistência oferecida pela laringe é elevada a respiração tranqüila, mas se
reduz reflexamente por ampliação de diâmetros durante a respiração profunda.
4.
A árvore traqueobrônquica oferece maior resistência nas vias aéreas de calibre
entre 2 mm e 5 cm (centrais).
As
pequenas vias aéreas periféricas (definidas como as que possuem diâmetro interno
menor que 2 mm) contribuem com menos de 15 a 20% para a resistência total, uma
vez que são numerosas e nelas o fluxo é lento e pequeno, levando pouca queda de pressão em seu
interior (onde inclusive o fluxo é laminar).
Em
assim sendo, grave doença pode se desenvolver nessas pequenas vias sem ser
detectadas pelas "provas de função pulmonar" de rotina – daí a denominação de
"zona silenciosa".
As alterações precoces do DPOC (estreitamento inflamatório e
enchimento por secreção de vias aéreas com menos de 2 mm de diâmetro interno)
são melhor detectadas por estudos sofisticados como "complacência dependente de
freqüência", "volume de oclusão" e "FEF25-75%".
É
importante salientar que alterações obstrutivas em vias aéreas com diâmetros
entre 2 mm e 5 cm (grandes vias aéreas centrais) têm impacto sobre os índices
espirométricos derivados da capacidade vital forçada, CVF, (como VEF1,
índice de Tiffeneaux e FEF 25-75), que refletem principalmente a resistência de
vias aéreas centrais, responsáveis por mais de 80% da Rva da árvore
traqueobrônquica.
A resistência de todas as
pequenas vias aéreas intrapulmonares representa entre 10%
e 20% do total. A razão
disso é que, embora cada via aérea individualmente seja bastante estreita, o
grande número que atua paralelamente a cada ordem de ramificações faz que a
resistência da rede seja mais baixa. Além disso, nesse nível o fluxo é laminar.
Fatores que afetam a resistência das vias aéreas
Os principais determinantes são a retração elástica
pulmonar e o volume pulmonar, que determinam
a área de secção transversa, raio e geometria das vias aéreas.
Existe uma relação hiperbólica entre a resistência das vias aéreas e com o
volume pulmonar.
Variações de volume pulmonar acima da capacidade residual funcional
(CRF) afeta pouco a Rva, mas entre a CRF e o volume residual (RV) a resistência
aumenta enormemente (é infinita ao nível do volume residual). A
resistência das vias aéreas é inversamente proporcional ao volume pulmonar, pelo
fato de que, durante a expansão, as vias aéreas intrapulmonares participarem
todas do aumento do volume.
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